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quinta-feira, 26 de março de 2015

Programa Portugal 2020 vs cultura industrial japonesa


Cultura industrial japonesa 


Em contraste com as empresas ocidentais, os engenheiros recém formados no japão normalmente começam as suas carreiras a trabalhar no chão de fábrica (na produção).

O argumento histórico dado para esta prática foi a necessidade do Japão rapidamente transferir e incorporar tecnologia oriunda do ocidente. 
O chão de fábrica era como um laboratório, com uma elevada concentração de engenheiros cujo papel era resolver os problemas de implementação das novas tecnologias.

Esta forma diferente de utilizar os engenheiros, faz sentido não só para atingir elevados níveis de inovação nos processos produtivos, bem como em termos de otimização de processos, nomeadamente redução dos tempos de “setup”, re-engenharia de equipamentos e processos.


Este nível de capacitação no chão de fábrica e diferença de cultura permitem que no Japão se dê um papel de destaque no desenvolvimento às equipas de “Manufacturing Engineering”; enquanto no ocidente este papel principal é dado às equipas de “Product Engineering”.

A diferença de cultura industrial é uma das razões pela qual o “TPS” (Toyota Production system) tantas vezes tentou ser replicado por empresas ocidentais sem sucesso. No entanto o Japão "exportou" diversos conceitos industriais ligados ao "lean", nomeadamente "Kaizen", "Poka Yoke", "Gemba","Mizusumashi", "5S", entre outros.

Quando analisamos o tempo de colocação de novos produtos no mercado, voltamos a ver que as empresas que lideram, pela sua rapidez, normalmente são japonesas.


Vamos analisar alguns dados relativos a 2013, colocandos os em forma de ranking mundial: 
Ficando evidente o poder do Japão em termos de exportações.

Ainda mais evidente.

Com uma evidente vertente inovadora.

Números que evidenciam a "Competitividade e internacionalização" do Japão. 
 

Programa Portugal 2020


No programa Portugal 2020 que reúne Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, encontramos 16 programas operacionais, entre os quais o Compete 2020, referente à Competitividade e internacionalização.

Nos avisos para apresentação de candidaturas 01/SI/2015 e 03/SI/2015, referentes ao sistema de incentivos “Inovação Produtiva”, encontramos uma metodologia de avaliação de projetos com diversos indicadores, entre os quais encontramos:


C. Impacto na economia

C2. Impacto estrutural do projeto

Com dois indicadores de produtividade

VAB – valor acrescentado bruto
RH – quantidade de trabalhadores 

C3. Grau de Qualificação do emprego criado

Onde é avaliada a percentagem de trabalhadores altamente qualificados, antes do projeto e depois da implementação do projeto.


EAQ = Nº de trabalhadores com nível de qualificação igual ou superior a 6, ou seja Licenciatura, Mestrado ou Doutoramento.

Análise

Se numa empresa o aumento percentual do número de trabalhadores, for superior ao aumento percentual do VAB, então o indicador P1 irá ser negativo e a pontuação final comprometida. Bem como quantos mais trabalhadores tiver que contratar para um determinado aumento de VAB, também pior será o valor obtido no indicador P2.

Em contrapartida o aumento da automação de processo, com redução do número de trabalhadores, irá aumentar ambos os indicadores P1 e P2.

Por outro lado, uma empresa que aumente o número de trabalhadores, sem aumentar o número de trabalhadores com nível de qualificação superior a 6, obterá também uma má classificação no indicador C3.

Conclusão

Se voltarmos a pensar na cultura industrial japonesa, onde existe um grande número de engenheiros no chão de fábrica, trabalhando diretamente no produto, podemos concluir que esta cultura traria resultados positivos na avaliação de um projeto no âmbito de uma candidatura no Compete 2020.

Porque, na cultura industrial japonesa existe um elevado nível de automação, associado a elevados percentuais de quadros altamente qualificados. Que permitem operações com elevados níveis de inovação, competitividades elevadas e reduzidos prazos de implementação de novos projetos.

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